Somos filhos de Deus! A consequência lógica é a fé firme de que “o Senhor abre os olhos aos cegos, o Senhor faz erguer-se o caído; o Senhor ama aquele que é justo” (Sl145/146, 8). Deus nos dá a fé que recupera a nossa visão, concede-nos viver uma vida moral virtuosa que nos faz andar erguidos e nos une a si pela graça cada vez mais esplendorosa. Da fé, passando pela moral, até a glória: este é o nosso caminho.
Em todo esse contexto, o mais importante é a fé, pois “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11,6). Enquanto estamos vivos, temos que fazer de tudo para não minguar nem perder a fé, pois ela é fundamento para as virtudes da esperança e da caridade. É possível viver até mesmo em pecado e crendo, mas se a pessoa perder a fé então já não há nada nela que seja base de possibilidade rumo à vida espiritual. É a fé que nos faz ver e, consequentemente, nos transforma em “herdeiros do reino” (Tg 2,5). Pense bem: quem tem reino e é generoso, quer ajudar a todos, especialmente os mais necessitados. Sem acepção de pessoas, queremos que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade.
Neste sentido, lembro-me de daquele sacerdote que atendeu uma pessoa com uma vida toda errada, mas recordo-me também que o padre o olhou com um olhar de pastor que sara, cura, transforma, foi um olhar misericordioso. Aquele sacerdote não conseguiu mudar a vida daquela pessoa naquele dia, mas ainda ressoam aos seus ouvidos aquelas palavras tão sinceras que aquela pessoa lhe dirigiu: “padre, ainda não sou capaz de fazer o que o senhor está me pedindo aqui hoje, mas uma coisa queria dizer-lhe: nunca ninguém me olhou como o senhor olhou para mim no dia de hoje: o senhor olhou para mim como uma pessoa e fez sentir-me amado por Deus”. O padre também ficou comovido. Não façamos acepção de pessoas, vamos olhar a todas com o olhar misericordioso de Jesus, com uma misericórdia que queima, que cura, que transforma vidas.
Tenhamos sempre uma visão de fé, sobrenatural, glorificadora de Deus e esperançosa para com todas as pessoas. A Igreja Católica, e nós nela, existimos para isso: para dar glória a Deus e salvar almas.
É belo ver Nosso Senhor Jesus Cristo andando pela região de Tiro, de Sidônia, pelo mar da Galiléia, pela Decápole… (Mc 7,31); Ele é o missionário do Pai para a salvação das almas. Deveríamos unir-nos a Jesus pelos caminhos deste mundo para a salvação das almas. Aquele seu amigo, aquela pessoa no seu trabalho, aquele seu familiar, aquele jovem lá daquele mesmo curso universitário que o seu… são almas a esperar que você pronuncie a sua voz de salvação sobre eles. Isso mesmo que você aprendeu: você, pela autoridade concedida por Jesus na consagração batismal, tem voz de salvação. A sua palavra chega e destrava os ouvidos dos surdos. Fale de Deus, encontre ocasiões para falar de Deus, para curar os ouvidos tamponados pelos barulhos do mundo, pelas comodidades da carne e pelos enganos de Satanás. Através de você, as pessoas virão ao encontro de Jesus e resolverão suas próprias vidas nele, em Jesus, a tal ponto que poderão falar sem dificuldade, explicarem-se com desenvolvimento.
Como eu sei que quero ser santo? Como perceber, verdadeiramente, que quero fazer a vontade de Deus? Pelo apostolado, isto é, quem gosta de trabalhar na salvação das almas, ama a Deus, quer ser santo. Este é um termômetro excelente para saber se estamos bem espiritualmente: fazer apostolado, querer que as almas se salvem, que todas as pessoas se convertam e possam ir para o céu.
Precisamos fazer apostolado com todos, mas cada uma com as pessoas mais próximas. Temos que catolicizar: que todas as pessoas sejam cristãs católicas. De fato, é na barca, que é a Igreja, onde todos os seres humanos estarão seguros, com a segurança da fé. Estejam atentos, porém, a uma coisa: homens façam apostolado diretamente com os homens e indiretamente com as mulheres; mulheres façam apostolado diretamente com as mulheres e somente indiretamente com os homens.
Preciso explicar melhor este pedido prudencial. Já aconteceu, infelizmente, que em grupos de casais da igreja, algum marido já se apaixonou pela esposa de outro homem do mesmo grupo; também houve o caso contrário: mulher encantada com o marido da irmã do mesmo grupo. Todos nós devemos ser prudentes, pois não podemos começar espiritualmente com o “Creio em Deus Pai” e terminar miseravelmente na “ressurreição da carne”.
Sacerdotes, religiosos e seminaristas devem ser maximamente prudentes com as mulheres. De fato, continua válida, desde o ponto de vista moral, aquela norma prudencial que manda aos padres atender as mulheres no confessionário com grades, ainda que justifique alguma vez atendê-las fora do confessionário. Religiosas e outras mulheres que vivem o celibato apostólico também devem ter muito cuidado, evitando todas as familiaridades, inclusive com sacerdotes. Que o nosso apostolado brilhe pelas virtudes da humildade e da castidade, “bem-aventurados os puros de coração porque verão a Deus” (Mt 5,8).
Em todo caso, no apostolado o mais importante é que preparemos o campo onde haverá colheita pela oração e pela mortificação. Ir ao apostolado sem oração é como um barulho de latas vazias. Rezemos por todas as pessoas e procuremos a salvação das almas.
Pe. Françoá Costa
22 de setembro de 2023
padrecosta2033@gmail.com