Muita gente parece que só conhece aquela passagem do Senhor sobre o julgamento: “não julgueis para não serdes julgados” (Mt 7,1). E, com esta passagem, deixa o mundo nas mãos do Capeta. Explico: se um católico fala que os comportamentos contra a natureza são pecaminosos, eles dirão “quem é você para julgar?”; se você falar que as doutrinas ateístas estão erradas, eles dirão “não julgue!”; se você falar que tal pessoa está errada por aprovar o aborto, de novo vão te dizer “cuidado! Quem somos nós para julgar?”. E assim por diante.
Acontece que o mesmo Senhor também nos interpela: “Por que não julgais vós mesmos o que é justo?” (Lc 12,57). E o Apóstolo, como que glosando essas palavras de Cristo, nos recorda: “Então não sabeis que os santos julgarão o mundo? E se é por vós que o mundo será julgado, sereis indignos de proferir julgamentos de menor importância? Não sabeis que julgaremos os anjos? Quanto mais então as coisas da vida cotidiana?” (1 Cor 6,2-3).
Uma de duas, ou Jesus é muito sensato ou é muito louco. A segunda opção é simplesmente blasfema, pois seria uma afronta sacrílega chamar o homem mais perfeito deste mundo de louco. E ele seria um louco se afirmasse uma coisa e o contrário desta mesma coisa, sob o mesmo aspecto. Isso não pode ser. Jesus é perfeito Deus e perfeito Homem, portanto quando ele fala, diz sempre a verdade. Então, deve haver um aspecto pelo qual não se pode julgar (cf. Mt 7,1) e deve existir outro aspecto pelo qual é permitido julgar (cf. Lc 12,57).
A igreja Católica sempre foi muito consciente de que o que é pecado é o juízo temerário, isto é, quando julgamos sem fundamento algum. Mas os juízos habituais que fazemos, quando há fundamento, não são pecaminosos. Mais ainda, passamos a vida julgando. Admitir o contrário seria colocar imediatamente os juízes e os advogados às portas do inferno, já que estes julgam até profissionalmente.
Não podemos invocar as Sagradas Escrituras em favor de argumentos insensatos. O cristão tem todo o direito de julgar e condenar os erros deste mundo, não à toa este foi o costume da Igreja Católica nos últimos dois milênios. Demais, a nossa inteligência, além da luz natural da razão, foi elevada com a luz da fé e, portanto, se encontra mais capacitada para julgar: temos uma luz na inteligência que os pagãos não têm. Então julguemos, porém não temerariamente, isto é, sem fundamento. Nesse sentido, vale a pena lembrar que é muito importante rezar e estudar bastante a sã doutrina para apreciarmos corretamente as coisas, isto é, segundo o Espírito Santo.
Sendo assim, os juízos que afirmam que o comunismo é mau, que o ensinamento do que chamam educação sexual nas escolas é um erro, que não se pode admitir os pecadores públicos à comunhão eucarística, que não se deve votar em candidatos abortistas, são juízos que devem ser feitos sim. E se alguém quiser me julgar contra o que aqui foi dito, saiba que antes eu já o julguei.
Pe. Françoá Costa
21 de setembro de 2023
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